Programação AdF.19

Lab. Devorar e ser devorado

AdF.19 – Escapar do Capataz teve como espinha dorsal o encerramento de Devorar e ser devorado – um laboratório de orientação de processos. O termo Devorar e ser devorado, surge em diálogo revisionista da antropofagia como uma produção assimilacionista da arte europeia pela brasileira. Ao mesmo tempo em que percebe a necessidade de uma revisão crítica, Devorar e ser devorado assume também a importância do hibridismo que forja leituras desidentitárias.

A primeira etapa do processo aconteceu em Abril, na Suíça durante o festival zürich moves! Os artistas entre brasileiros e os radicados na Europa, se reencontraram no mês seguinte no Rio de Janeiro, em nosso festival. Como uma atividade exclusiva e não aberta ao público em geral, o laboratório funciona como um subterrâneo do festival, através do qual os artistas realizavam encontros matinais diários.

A etapa em Zurique foi orientada por Simone Aughterlony, e a carioca por Marcela Levi e Lucia Russo.

 

28.maio | 20h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Fortaleza 2040 – Andréia Pires

Com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição Coreográfica Criminosa.

Agradecemos a Deus pela onipotência, ao Forte Schoonenborch e a Nossa Senhora da Assunção pela majestade, ao Rio Pajeú pelas límpidas águas, aos militares e as armas nacionais pela justiça, a família brasileira e a Igreja pela paz mundial, a Iracema pela fama, ao Wagner pelas marchas e aos Faustos pelos projetos.

dançarina: Andréia Pires | cartografia dançarina: Geane Albuquerque | dramaturgia dançarino: Honório Felix | iluminação e intervenção sonora: Alejandro Ahmed | direção compartilhada: Alejandro Ahmed.

Fortaleza 2040 – Andréia Pires
Fortaleza 2040 – Andréia Pires

 

29.maio | 19h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Do desgoverno como forma de administração à permanência estranha: a prática de performance em contextos de contradição – palestra-intervenção de Simone Aughterlony

Nesta palestra-performance, Simone Aughterlony relaciona entre corpo e palavra, alguns dos motes que orientam as suas últimas criações artísticas. Há, de início, uma dupla percepção da noção de crise. Uma que explicita a incongruências dos muitos desejos e necessidades de sujeitos tão diversos entre si; e outra em que a crise serve justamente de subterfúgio para forjar um estado policiado. À ambiguidade da noção de crise Aughterlony adiciona ainda a pergunta de como cohabitar na diferença sem consumir o outro.

Do desgoverno como foivurma de administração à permanência estranha: a prática de performance em contextos de contradição – palestra-intervenção de Simone Aughterlony

 

30.maio | 19h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

I’m Gonna Need Another One (fragmento de monólogo reordenado) – de Jen Rosenblit, performado por Eleonora Artysenk

Os fragmentos estão em um doloroso processo de se tornarem coisas inteiras. É assim que I’m Gonna Need Another One perturba o indivíduo autêntico e singular priorizando a inevitabilidade do desmoronamento das coisas. Doze pedaços de espuma verde se despedaçam, deixam vestígios e se desintegram, perdendo assim a forma. Jen Rosenblit alude a múltiplas figuras que lhe mostram os problemas inerentes à construção de estratégias para o futuro, bem como as diretrizes que nos fazem nos localizar e nos conhecer. Sob o sentido de um Sous Chef a Quíron – o deus grego da dor e da cura, passando por um fazendeiro, um soldado, Dorothy, e um sujeito que compulsivamente reordena sua mobília, Rosenblit extrai os materiais que compõem sua performance. No Fragmento reordenado para AdF.19, a performer elocubra sobre o vazio como um gesto possível para se imaginar novas possibilidades. A galeria é atravessada pela poética da linguagem e dos nossos corpos, até que nos reste um mapa flutuante e sem marcos; uma cartografia ilegível que sugere que estar perdido também é uma localização válida.

Conceito, criação e texto: Jen Rosenblit | performance: Eleonora Artysenk | design de som: Gerald Kurdian | direção técnica e iluminação: Yoshi Goettgens | dramaturgia: Kuchar & Co, Adham Hafez e Adam Kucharski | pesquisa e fotografia: Simon Courchel | produção: M.i.C.A., Katharina Meyer e Raisa Kröger | apoio: HauptstadtKulturFonds Berlin, The Chocolate Factory Theatre NYC, Atelier Mondial Basel e Hirshhorn Museum D.C.

I’m Gonna Need Another One (fragmento de monólogo reordenado) – de Jen Rosenblit, performado por Eleonora Artysenk

 

30.maio | 20h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

O lugar da ferida – Carolina Bianchi y Cara de Cavalo

A perfomer, diretora e dramaturga Carolina Bianchi apresenta um breve estudo em que conecta sujeitas ficcionais e reais, de diferentes épocas da História e diversos lugares do mundo, engajada em traçar uma linha do tempo irresponsável, libidinosa, violenta e úmida.

Cercada de fantasmas do tempo presente e passado, num jogo do copo que é jogo de corpo, de palavra, da imagem – Bianchi mergulha nas controversas teorias científicas antigas de análise da fisionomia – aonde seria possível compreender os efeitos do amor incondicional ou da maldade pura de uma pessoa pelos traços do seu rosto em uma fotografia – e elabora rotas de ficção ao se debruçar sobre os rostos de algumas figuras como Joana D’Arc ou a poeta americana Emily Dickinson, revelando o desejo e também sua incapacidade de descolonizar o pensamento e a linguagem, em um ciclo brutal e infindável, da mesma forma que explicita sua perplexidade diante do martírio do tempo.

Como seria possível uma linha do tempo molhada, que levasse em conta as feridas históricas e eliminasse a linguagem como conhecemos para criar outras narrativas?

Como manipular o mapa temporal dos poros, do sangue?

O lugar da ferida é uma performance/ estudo que integra a pesquisa e criação da nova obra de Carolina Bianchi y Cara de Cavalo, O tremor magnífico, que estreia no final de 2019.
Esta é uma obra inacabada, em processo.

direção e dramaturgia: Carolina Bianchi | assistência de direção e operação de som e vídeo: Joana Ferraz | performers: Marina Matheus, Joana Ferraz, Danielli Mendes, João Victor Cavalcante, Wallace Ferreira, Lucas Sereda e Carolina Bianchi | colaboração: José Artur Campos, Alysson Amaral, Larissa Ballarotti, Tomás Decina, Chico Lima, Gustavo Colombini e Gustavo Saulle | figurinos: Carolina Bianchi e Lu Mugayar | apoios de espaço de ensaio: Simpatia (SP) e Montagem (RJ)

O lugar da ferida - Carolina Bianchi
O lugar da ferida – Carolina Bianchi y Cara de Cavalo

 

31.maio | 19h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Pôr Nu – Victor Oliveira

Pôr Nu é um encontro corporal entre o performer e a plateia, que propõe encontrar um estado comum e uma experiência de união. As ações propostas em grande proximidade expõem o corpo, seus buracos e genitálias. Corpo pós-pornô, corpo objeto, corpo desejante.

Concepção, criação e interpretação: Victor Oliveira
Produção: Jorge Soledar
Espaço de criação: Lab_Performance, EBA – UFRJ

Victor Oliveira – Pôr Nu
Pôr Nu – Victor Oliveira

 

31.maio | 20h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Gente de Lá – Wellington Gadelha

Gente de Lá é uma ação cênica preta-favelada-urbana e transversal que propõe um instante poético de denúncia e afronta. Ao atravessar a dança pelas artes visuais, o trabalho parte da investigação de um corpo roleta-russa enquanto discurso que reflete questões urgentes indo desde as chacinas cotidianas na cidade de Fortaleza até o massacre estrutural da população negra no país. Na composição busca-se experimentar os aspectos relacionais corpo-objeto como diálogo/confronto – discurso/arma – bala/projétil – capaz de perfurar os circuitos pré-estabelecidos para o negro na dança e repensar territórios, violências e circuitos subjetivos de segregação étnico-racial-espacial no contexto urbano.

Gente de Lá é uma encruzilhada onde vida e arte se esbarram.

Este projeto foi inicialmente desenvolvido no Laboratório de Criação em Dança da Escola Porto Iracema das Artes em 2017, desenvolvido por Wellington Gadelha em parceria com a artista colaboradora Priscilla Sousa, contando com a interlocução dramatúrgica de Luiz de Abreu (BH/BA) e Leonardo França (BA). Atualmente, tem a realização e produção da Plataforma Afrontamento, apoio do Rumos Itaú Cultural (2017-2018) e agrega Thereza Rocha (RJ/CE) também como interlocutora na dramaturgia.

Criação, dramaturgia e pesquisa sonora: Wellington Gadelha | criação audiovisual, fotografia: Priscilla Sousa | produção musical: DJ Pedro Ribeiro | cenografia: Wellington Gadelha e Emanuel Oliveira | interlocutores dramatúrgicos: Luiz de Abreu, Leonardo França, Thereza Rocha | projeto gráfico: Diogo Braga | produção e realização: Plataforma Afrontamento | parcerias: Trincheira, Escola Porto Iracema das Artes e Galpão da Vila | apoio: Rumos Itaú Cultural

O lugar da ferida – Carolina Bianchi y Cara de Cavalo
Gente de Lá – Wellington Gadelha

 

01.junho | 22h

Centro de Arte Maria Teresa Vieira

Trinta Y Dois Igual a 5 – Ivy Monteiro

Trinta Y Dois Igual a 5″ é uma performance / concerto post-pop, experimental e multilinear.

Ivy Monteiro evoca no palco um coletivo musical dissidente e afrofuturista, personificando vozes de outras dimensões/tempos e as trazendo para os holofotes dos dias de hoje. Essas vozes-coletivo levaram 32 anos para atravessar o longo deserto da vida e depois de todo esse tempo, a soma dos números 3 + 2 ainda é igual a 5. Cinco pontos. Um pentagrama que gira rápido. Formando um circulo perfeito de nascimento, vida e morte. Cinco elementos. Cinco artefatos sagrados, que governam a vivência alienígena apresentada pelo artista nesse plano. Amor, ódio, Paz e Guerra são ingeridas, digeridas e regurgitadas em formato de musical, dança e ancestralidade em “Trinta Y Dois Igual a 5”.

Conceito: Ivy Monteiro | criação e dramaturgia – Ivy Monteiro | colaboração – performance: Tracy September, Wellington Gadelha, Nilo Stillhart, Stefan Schmidlin
orientação: Marc Streit | colaboração – produção: Hans Manz (Theatre Neumarkt)
 | colaboração – som: Wellington Gadelha, Tracy September

Trinta Y Dois Igual a 5 – Ivy Monteiro

 

Festa Debut Casa de Cosmos Voguing Ball

 Casa de Cosmos Voguing Ball

 

01-02.junho | 19h

Centro deCoreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Mordedores – Marcela Levi e Lucía Russo | Improvável Produções

“A maior parte dos dançarinos quer ser cavaleiro, isso é um problema para o corpo que nosso trabalho demanda. A gente não está cavalgando o próprio corpo. A gente é cavalo…

Mais interessantes são os corpos (re)movidos por invisibilidades, a nossa dança convoca esses corpos aborrecidos de sua própria imagem e contorno… Há algo disso na ficção científica, nos desenhos animados, em certos sonhos. (…)

Para nós o projeto faz parte da procura de uma dança de corpos atrelados ao fora, corpos divertidos (vertido em dois). Aí é que nos toca uma Bjork cantando ‘violently happy’; o eu fraturado de um Rimbaud ou o Nijinsky quando escreve em seu diário: ‘Nós somos ritmos. Os sentidos se situam sempre sob a fronteira, face a face com a onda proliferante da diferença. Não há identidades, apenas ritmos.” (levi e russo)

Em 2014 Marcela Levi e Lucia Russo deram início a um processo de longa duração que demandava a participação colaborativa de jovens performers numa pesquisa sobre a violência, entendida e experimentada para além de suas conotações imediatas de aniquilamento, morte e destruição. Contrariando o imaginário (e as políticas culturais e sociais) que visam pacificar a violência por meio de uma dopagem, de um esvaziamento de energia – também eles, evidentemente, violentos – realizados em nome de harmonia edificante, Levi e Russo incorporam a energia da violência como disparadora de uma espiral de forças em tensão. Ao corpo contemporâneo blindado e asséptico, na desesperada busca de uma fortaleza auto-protetora envolvido em fantasias cosméticas contrapõe-se um corpo permeável, mais elástico, que pode romper, que suja e se suja, que pensa e é pensado, morde e é mordido.

direção artística: Marcela Levi & Lucía Russo | performance e cocriação: Gunnar Borges, Ícaro Gaya, Lucas Fonseca, Lucía Russo, Monique Ottati, Tamires Costa e Thadeu Matos | colaboração no processo de criação: Ana Maria Krein, Daniel Passi, Gabriela Cordovez, João Victor Cavalcante, Luan Machado, Kandyê Medina, Marilena Alberto, Thiane Nascimento e Tony Hewerton | colaboração dramatúrgica: Laura Erber | desenho de luz: Andrea Capella | desenho de som: toda a equipe | figurino: Paula Stroher | registro fotográfico: Paula Kossatz e Renato Mangolin

apoio: Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro / Secretaria Municipal de Cultura, Centro de Artes da Maré, Lia Rodrigues Cia de Danças, Casa Funarte Paschoal Carlos Magno, Projeto Entre / Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Espaço Cultural Sítio Canto da Sabiá e Consulado da Argentina | coprodução: Iberescena / Funarte e Cooperativa Disentida | patrocínio: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura (SMC) | difusão internacional: Something Great (Berlin – DE) | produção e realização artística: Improvável Produções

Marcela Levi e Lucía Russo em Mordedores
Mordedores – Marcela Levi e Lucía Russo | Improvável Produções

 

02.junho | 19h

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Compass – Simone Aughterlony, Petra Hrašćanec & Saša Božić

Em Compass duas performers questionam suas identidades como dois polos de uma mesma personalidade. Em meio a um ambiente escuro, constrói-se uma paisagem impressionista na qual Petra Hrašćanec e Simone Aughterlony desvendam-se da silhueta de seus corpos até mostrarem-se identicamente vestidas. Com motes inspirados na Odisséia, Compass é também uma ode ao nomadismo e à solidão dos navegantes.

Não vamos mais fingir surpresa pelo estranhamento. Comece aqui, antes que a familiaridade assuma com nós a falta de reconhecimento. Circunavegando a compreensão cautelosa do estranho, já que não há compreensão, olhamos para a bússola. Observe a agulha vacilar e saia do curso; desvio magnético na proximidade do desejável. Molhada de lágrimas ou encharcada de tempestades, outra onda traz outro marinheiro e pensamentos de amoralidade. A seca marcará a passagem do tempo ou poderá trazer ventos para resistir à tempestade. Traga peixe defumado e muito sal para preservação. Verei você comer como já vi outros antes.

Criação: Simone Aughterlony, Petra Hrašćanec & Saša Božić | performance: Simone Aughterlony e Petra Hrašćanec | música: Hahn Rowe | cenário e figurino: Ana Savić-Gecan | desenho de luz: Bruno Pocheron e Miljenko Bengez | vídeo: Josip Visković | produção: 21:21 | coprodução: Simone Aughterlony, Verein für Allgemeines Wohl, Studentski centar u Zagrebu – Kultura promjene – Teatar &TD via apap-Performing Europe 2020, International Coproduction Fund of the Goethe-Institut | tour manager: Mario Gigović

Compass – Simone Aughterlony, Petra Hrašćanec & Saša Božić
Compass – Simone Aughterlony, Petra Hrašćanec & Saša Božić

 

Exposição temporária

Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro

Quem mandou matar Marielle? – Flávia Naves

Ao completar dois meses da execução da vereadora Marielle Franco, no dia 14 de maio de 2018, a performer Flávia Naves inicia a ação Quem matou Marielle? Na qual propõe vestir esta pergunta e não retirar mais até que ela seja respondida, ou até o seu limite psicofísico. 365 dias após o início da performance, no dia 14 de maio de 2019, a performer inicia um desdobramento desta ação no qual disponibiliza, nos principais pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro, um totem de papelão feito da sua imagem vestindo a pergunta Quem mandou matar Marielle? No lugar do seu rosto, um buraco para que as pessoas possam, ou não, posicionar suas cabeças.A performer permanece no local da ação tirando fotos e conversando com quem interage com o seu totem.

* Serão exibidas fotos da performance durante todo o período do festival, no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro – saguão de entrada do Teatro Angel Vianna.

Quem mandou matar Marielle? – Flávia Naves
Quem mandou matar Marielle? – Flávia Naves