Milena Travassos

Lembro de quando assisti pela primeira vez ao conjunto de vídeos instalativos de Milena Travassos entitulados Sala de Jejum. Projetei-os em minha própria sala enquanto a habitava, e deixei os vídeos em loop para que de vez em quando me surpreendesse com aquele espaço que me era tão familiar mas que a obra de Milena me apresentava tão novo. Em seguida dei sorte de estar em exibições onde outras instalações de maior porte figuravam entre os destaques.

Aconteceu na Bienal de Par em Par, Terceira Margem (2008) e no Salão de Abril 1980-2009 – De casa para o mundo, do mundo para casa, para mencionar algumas. Mas aquele primeiro contato me seguiu bastante forte, porque parecia a perfeita epifania das obras dela: algo que chega com a sutileza de se confundir com o próprio entorno e de repente de tão fixo nele – ou de tão fixo em mim – reverte toda a concretude do espaço em um trabalho sobre o tempo, em uma narrativa mitopoética. Justo por essa mitopoética tão presente nas imagens propostas pela artista, convidamo-na a apresentar um novo vídeo, desta vez como um vídeo-ensaio. Interessa-nos como versa o trabalho sobre a mitopoética, como ela engendra um evento sobre palavra, e se há lugar disponível para o seu uso.