A relação entre arte e discurso gera, há bastante tempo, incansáveis pesquisas e elaborações de toda ordem. Instigados por essas discussões, propomos Atos de Fala: um evento de palestras-intervenções, vídeos-ensaios e esculturas-arquivos, que nos convidam ao pensamento sobre formatos reconhecíveis de discursos.
As performances que trazemos a este festival, são intervenções que ressignificam os procedimentos das palestras e o diálogo com a platéia. Os vídeos que integram Atos de Fala transformam o ensaio, conhecido gênero literário, numa nova forma de relacionamento entre as imagens, os gestos e as palavras. Já as esculturas-arquivo são trabalhos a partir dos rastros de cada palestra-intervenção.
Esse título, Atos de Fala, nos interessa, porque é um conceito proposto pelo linguista inglês John Austin. Um ato de fala é um discurso que importa não só pelo que diz, mas pelo que se move quando se diz. O que essa fala legitima, empodera, permite ou desdobra de ações, ou que procedimentos, ela delimita, remapeia, impede de ocorrer? Um ato de fala é um discurso performativo por notar o contexto e as relações de poder que através dele se (re)formam.
Não à toa o ato de fala é um forte constituinte das artes de performance. O que se diz quando se diz à Mexicanos imigrantes ilegais perdidos no deserto norte-americano onde há água por perto? E o que se diz quando se faz isso de dentro do próprio território norte-americano, com financiamento acadêmico, e através de celulares com GPS que foram dados a estes imigrantes para garantir sua localização? Como tais ações redefinem políticas governamentais, na medida em que a mesma instituição que investe no fechamento de fronteiras em prol de uma idéia de soberania nacional, também investe, à sua revelia, na localização de imigrantes ilegais, não mais para prendê-los e deportá-los, mas para promover-lhes ajuda humanitária? Em outro procedimento socio-político artístico, o que se diz quando se ouve um discurso de uma senhora com Alzeihmer e se investe nesta repetição com vários outros participantes para migrar da perda à poesia e construir novos sentidos que só a semântica cacofônica pode gerar? Ou como essa mesma condição de esquecimento é utilizada para gerar um vídeo que imprima a memória? Ou como uma cidade é re-registrada por novas palavras que fazem valer mais o afeto do que a semântica? ou como a platéia se vê como arquivo descentralizado de um espetáculo? Pode o espetáculo ainda ser espetáculo se a platéia é seu documento?
São com essas indagações que construímos Atos de Fala uma plataforma curatorial e de pesquisa que traz como seu primeiro evento o Festival que conta com Palestras-intervenções, Vídeos-ensaios e Esculturas-Arquivos e que acontece de 07 a 11 de Setembro no Centro Cultural Oi Futuro, em Ipanema, Rio de Janeiro.